Acredito em anjos
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 12 de mai.
- 2 min de leitura

Há alguns dias voltávamos de viagem, BH – Guanambi. Na bagagem uma boa nova – que o coração nem esperava, dando passagem a um novo ciclo. Receber o que se deseja é agradável, mas ser surpreendido talvez seja um tanto mais superior.
Gratos, malas arrumadas, uma conferência na água do carro e uma hóspede do mesmo hotel se aproxima, olha pra nós e em segundos confessa sua vontade de ir embora também e sem pestanejar nos conta a história de sua filha. Teve sinusite em fevereiro, a bactéria se alojou no cérebro e foi feita uma cirurgia delicadíssima. Resumindo, a menina que chegou com os movimentos quase que totalmente paralisados, está bem, voltando às atividades normais de estudo e livre do problema. A mãe, com muita certeza, nos falou de Deus, dos dias intermináveis na Santa Casa, da vontade de voltar para sua cidade e da alegria de nos ver como família e ouvintes atentos.
Não sabemos o nome, mas ensinamento não precisa de assinatura. Penso que fizemos o que ela precisava, ser escutada. E ela nem imagina o quanto guardei a sua história, que vem ecoando desde que ouvi. Mal sabia que uma espera, um balanço, uma chacoalhada da vida estaria tão perto.
E afirmo, endosso, concordo e venho absorvendo certas expressões: “nenhum acontecimento é em vão”, “nada nos acontece sem propósito”. Tudo que lemos, ouvimos, assistimos e guardamos pode ser um dia relido, consultado, lembrado, quiçá melhorado!
Rezo a Deus todo dia para que eu não durma, a ponto de não perceber as coisas e as pessoas. E venho colhendo anjos por onde passo, guardando em lugares que outrora – só eu sabia. Com o tempo aprendi a dizer, a escrever e a liberar sentimentos que não merecem ficar presos. A fala e a escrita podem ser aliadas preenchidas de afetos sinceros.
Aquela mulher, em poucos segundos nos falou do que doeu e da vontade de ir embora, outra mulher – numa outra cidade, durante três dias, compartilhou comigo suas lutas e dividiu uma situação parecida com a minha. E mais uma vez, colhi palavras para uma vida de escrita. Não falo de quantidade, mas de sentido. É sobre aprender na troca, sobre nos envolver de energia que impulsiona, sobre caráter e visão clara da vida. Cotidiano sem perder o lirismo, o humor, a gota serena, o brilho no olho.
Há muitos medos inconfessáveis, mas o maior deles é deixar de enxergar anjos sem asas e não ouvir da maneira correta. Com certeza, outros passaram sem ser notados, talvez até possuem invisibilidade, mas que saibamos – cada vez mais, elaborar nossas situações – limpando as vistas e direcionando os ouvidos ao que nos melhora como pessoa.
Nascemos sozinhos e morremos sozinhos, mas no intervalo entre um e outro, necessitamos de conexões. Que saibamos alimentá-las do jeito certo. Amém!




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