DENTRO DE NÓS, UM MUNDO
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 1 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Desde que me entendo leitora, sempre gostei de metáforas, de perguntar - quando havia um drible na timidez que me marcava. Hoje, entendo que muito disso, tem ligação com a poesia que venho desenvolvendo e o encontro mais maduro com as crônicas. Não decifro todas, não sei tudo, mas continuo "curiosa" - e este detalhe faz muita diferença para quem escreve.
Hoje, aos 40, com uma filha de 7, vivo metáforas internas, decifro algumas pra ela, entendo outras com ela e é incrível como a "curiosidade infantil" nos impulsiona para um mundo tão mais interessante - e desejaria esta abertura a todos que queiram ser pessoas melhores.
Ontem ela viveu a virada do ano conosco, acordada, consciente do ano que ficou pra trás e do outro que se inicia, de um jeito inédito, pra ela e pra nós. E sua presença dissemina metáforas por todos os poros. Entra em discussões sobre a fuga do ex-presidente - de um jeito que poucos adultos saberiam, da mesma forma que pedala uma bicicleta minúscula, na casa da avó e diz em alto e bom som, que 2023 vem chegando e que tem muitas coisas pra viver neste novo tempo.
Até que subíssemos para o terraço para olhar os fogos da virada, ela fez seu último desenho de 2022 e tiramos a última foto - sugerida por ela, com uma pitada do seu humor e criatividade - que metaforicamente enche o meu coração.
Com uma taça de vidro em mãos, ela pede para aparecer por trás, para trazer o efeito dela por dentro da taça. Caso eu contasse isso à algumas pessoas, invariavelmente, teria como resposta - "isso qualquer criança faria". Lamento dizer que fazer espontaneamente, fazem mesmo, mas a história e a impressão sobre ela, pode ser minha - pelo menos no instante em que acontece e em que escrevo.
E sim, tiramos a foto! Rápida! Feliz! E posso repetir que enchi a minha taça de infância! Enchi o peito de vontade de que o próximo ano seja de intensidades mesmas, mas que elas nos encontrem um pouco mais leves, desconectados e menos reativos.
Além do gosto por comparações, ditados e palavras novas, é bonito de ver como Iza contextualiza o que acaba de aprender com uma facilidade ímpar. Após entrar rápido em casa, ela olha pra nós e diz: "entramos de supetão"! Sim, parece que o ano também entra assim em nós, pelo costume que temos de contar o tempo, as horas, as idades, os meses... e perdemos - muitas vezes, o processo. Fixamos as horas sombrias, as dores e emolduramos os desafios.
Seria tão mais sensível se pudéssemos perceber os nossos desejos interiores e respeitássemos as perguntas, como chaves para as novas portas secretas.
Falando em metáfora, terminei 2022 degustando a primeira parte do livro: Mulheres que correm com os lobos, presente de uma companheira loba - que encontrei no meu 2022: (Luciana Pinheiro), e que saboreia a vida e respeita sua própria intuição. Com ela e com nossa leitura compartilhada, reafirmo o que um dos escritos do livro nos lembra:
"A mulher aos poucos aprende não só a olhar, mas a fixar os olhos e vigiar com atenção, e cada vez mais a não ter paciência com gente enfadonha"
"A escolha criteriosa de amigos, companheiros, para não falar nos mestres, é de importância crítica para continuar consciente, para continuar intuitiva..."
Ver e viver a vida, a partir do prisma de uma taça, é muito mais do que explicar as figuras de linguagem, é encontrar sentido - quando ele não parece existir!






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