DEVANEIOS
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 13 de jun. de 2023
- 3 min de leitura

A vida é cheia de pedaços de pensamentos, de idas e retornos a nós mesmos. Aprendemos a identificar quem "nos traz de volta a nós", quem realmente nos conecta com a nossa essência mais profunda, seja qual for o nosso estado de consciência.
Alguns apostam na ligação de sangue - que por muito tempo era considerada, a única veia condutora de verdade - a família consanguínea, como um dever do destino, imposto a qualquer "cristão": aceitar imposições e interferências familiares, como sendo um pagamento por "tudo" que nos ofereceram - sem aditivos de liberdade de expressão, voos solos, decisões sem colher opiniões, permissão de ser quem se é.
Resultado: uma geração de pessoas inseguras, incrédulas de si, ineficazes em explorar a sua identidade e habilidades, fadadas ao fracasso e/ou à dependência emocional de "abusadores" (ladrões da individualidade).
Cada geração potencializa o que aprendeu, seja isto positivo ou negativo. Mas o caminho do meio pode existir quando reflito, duvido e realizo eventuais mudanças - internas e externas. Ninguém é obrigado a manter-se um ser que agrada a todos, posto que, desagradar ao outro também é mostrar que você ainda existe, que você escolhe, que você treina a inteligência que liberta.
Pessoas que cobram comportamentos dos outros, interferem na vida alheia, carentes e exigentes de atenção, são doentes e adoecedoras. É duro dizer, mas todos temos essa potência: causar ferimentos ou ser ferido, voluntaria ou involuntariamente.
O que discerne-nos uns dos outros, é o treino da inteligência, a escolha diária de evolução, a opção pelo crescimento e principalmente, ter quem nos traz de novo, ao encontro de quem somos.
Feridas abertas, visíveis... realizam um impacto grande. Feridas internas, dores da alma, memória "manchada", traduz pouco impacto, mas o poder destruidor é tão ou mais forte. Cabe a nós encher o pote de dentro, de entendimento e alicerce afetuoso. É necessário tirar a casca do "você é assim" que nos colocaram, e percorrer o caminho plantado pelas nossas próprias escolhas.
Ninguém é isento das experiências todas que já viveu, mas viver de passado não condiz com desconstrução dos machucados, viver o presente - ainda que doa, tira mochilas grandes de responsabilidades injustas e alheias.
O que pintaram, pintam e pintarão sobre quem somos, não pode ser determinante. Os outros, precisam ser os outros. Dar importância a quem se importa de verdade e caminha sem te algemar aos estereótipos de "boa conduta".
Uma aluna me questionou um dia:
- Professora, nós queríamos saber sua opinião sobre as palavras que vêm sendo usadas: "Todes, Ben Vindes, querides..."!
- Certo! Com relação à escrita da Língua Portuguesa, elas "ainda" não existem, registradas como "corretas"! Mas, como sempre digo, a Língua está em movimento e daqui a um tempo, pode haver mudança. No entanto, se quer saber se concordo com a ideia que elas têm, do respeito às diferentes orientações sexuais, te digo que sim.
Muitos consideram exagero, julgam na primeira oportunidade, e é exatamente por isso, que os termos são legítimos. Há uma realidade opressora, disfarçada de bem comum, que detona quem deseja ser - social, sexual, humanamente único.
Destronar o ego, humanizar os erros, construir-se sem pisar no coração alheio, perdoar-se e respeitar quem pensa diferente, talvez sejam os maiores pilares que precisamos construir por aqui.
O que acredito não invalida o outro, inferno e céu podem ser visões ilusórias - quando não há reflexão sobre si mesmo e sobre as sementes deixadas em terrenos tantos, pelos quais passamos.
Viver é um risco! Sofrer é inevitável! Viajar, plantar e escrever são escolhas! Até aqui tenho visto flores, com espinhos e beleza e, agradeço aos que me trazem de volta a mim, em cada estação.




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