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Engrenagem humana

  • Foto do escritor: Daliane Azevedo P. Guimarães
    Daliane Azevedo P. Guimarães
  • 24 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Certas perguntas ficam mais intensas na mente quando a maturidade chega ou no despertar dos anos maduros. Acredito que nunca estamos prontos até que entendamos o movimento da vida como a maior certeza que temos. Mais do que aceitar, é movimentar-se: seja nos ângulos internos, seja no espaço. Asseguro-me de que quem não se arredonda, não encontra o seu centro, quem não se regenera, vai deixando de viver. E há muitos que passam pela vida com olhar atento ao que não conseguiu, não superou, não encontrou, não aconteceu... e a coleção negativa e repetida vai sendo plantada e se distancia da cura.

A infância talvez seja a melhor proposição feita pela natureza humana para o processo de construção curativa, na versão primeira de existir nela, na versão secundária de conviver com os filhos, netos e as crianças todas que nos rodeiam.

Hoje vejo no rosto da minha filha (nos seus altos cinco anos), dentes novos, nariz tomando forma, sorriso nos olhos e uma liberdade de ser que passa pelo manifestar de tudo: desde o contentamento até a raiva quando contrariada. Então penso no quanto estamos longe de uma maturidade paternal que a deixe crescer sem limites internos.

Há muitas décadas de patriarcado plantados em nós e vitimados por esta ideia ainda falta muito para libertar o que nasceu para o livre. Mas encorajados por muito, arredondamos o nosso educar, visualizando uma geração nova que já acontece.

Encontrar caminhos a partir do que se viveu, moldar em nós possibilidades de nos perdoar por excessos - sem punições ou autoflagelos, já é de uma grandeza grata. E o que fizemos, o que somos e qual o estado de atenção com o PRESENTE, faz valer a ousadia de se viver como quer, na medida potencial daquilo que acreditamos.

As mudanças de opinião, as escolhas de como caminhar, de como sofrer, de como direcionar meu olhar... me tira do lugar, me acelera, me angustia e revira o estômago e tudo bem se engasgar com o normal do ser humano. Algumas coisas são complexas demais para o entendimento. E quem foi que disse que deveria compreendê-las, respondê-las, aceitá-las como suas sem tempo pra isso? A era da dúvida, a pretensão da dúvida, a alegria da dúvida talvez gere em nós um chão que muito pouco experimentamos. Se constrói "como ser" no gerúndio das horas, "sendo" e "fazendo" muito suas escolhas. Cercar-se de quem também se move é a melhor sensação de vida que poderíamos ter.

As pessoas estáticas, julgadoras e limitadoras de afeto não reconhecem nem elas mesmas, passam pela história, não se embalam - só se abalam com o "suposto" sucesso alheio. E terminantemente precisa se rever, buscar ajuda, se perguntar... De tempos em tempos, os caminhantes também podem se congelar, mas o movimento que desejam aos poucos aquece a alma de vontade.

Talvez não te compreendam, mas se a tranquilidade do continuar te resguarda, você só precisa ir. O que se é, o que você faz de melhor, a sua bússola é a (in)certeza do existir e crer que ainda se pode aprender a não limitar-se ao tempo e às alheias opiniões sobre ti.

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2 comentários


Daliane Azevedo P. Guimarães
Daliane Azevedo P. Guimarães
18 de dez. de 2020

Oh Su, que bom que gostou! Grande abraço!

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Sueli Oliveira
Sueli Oliveira
27 de nov. de 2020

Texto maravilhoso e bastante reflexivo sobre o processo de construção da natureza humana.

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