Meu caminho e o seu - "tudo é rio"!
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 21 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de jun. de 2023

Num intervalo de vida, no meio do meu caos interno, entre um tempo dedicado ou de rio correndo, escolho ler: "Tudo é rio" - de Carla Madeira. Por curiosidade, pelo título tão poético e vívido, pela autora que com tanta nobreza, descreveu esta sua obra, numa entrevista... Eu colecionava motivos para encontrar tal história.
Costurada entre as personagens e seus mais íntimos desejos e segredos. Humano e pacientemente composta de coincidências ou construções do destino, um linear de texturas, tessituras e força que descamam questões ao leitor, do que pouco se fala e muito se vê.
Casamentos empurrados pelo tempo, mulheres pouco aliadas de si mesmas, mágoas que petrificam corações, histórias seguindo o curso e pessoas envolvidas em seu próprio caminhar
Parece pintar mesmo, realidades de qualquer interior do nosso país, de qualquer interior da pessoa que somos, neste momento ou em outros tantos. E no meio das circunstâncias, decisões pelo luto de quaisquer das perdas, à maneira que se quer, à margem do rio que escolher, desaguando ou não sua dor. É o humano, sendo exatamente incompleto, e por assim ser, conduzindo a sua falta de controle diário, iluminado à medida que corre.
O mar pode receber tantos rios, tantos rumores e quebras de expectativas, como também, pode acolher mil e uma felicidades. Toda vida tem contornos que recebe com o passar dos dias e/ou dos capítulos. Como minha amiga Mariana disse: "... ainda que tenham tantas questões, a gente torce pelo casal!"
E como numa série, a narrativa nos prende do início ao fim, num desfecho magnético, que deixa desejo de continuidade.
Um romance assertivo, embebido de realidade e metáforas, quase sempre cercadas de surpresa. Como o trecho da carta a seguir:
"Não sei o que aconteceu com você e Venâncio, nem com o meu neto. Prometo não aumentar sua dor exigindo confidências. Quando quiser falar, você sabe que vou te ouvir. Estou aqui, minha filha. Enquanto isso, confio no tempo de Deus, Ele põe tudo em movimento. Descanse. Abra as janelas todas as manhãs, tome um pouco de sol. Traga flores para dentro de casa.
Com amor, sua mãe."
(pg. 139)
O mundo teria pessoas melhores se toda mãe e/ou sogra desse espaço "aos seus" para viver suas próprias dores e sabores - sem interromper o curso do rio, de nenhum dos lados.
E dos muitos trechos preferidos, finalizo esta apreciação com total admiração pela autora, quando ela também diz:
"Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. Não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo." - Pg 9.
Então, devo concordar que tudo é mesmo "rio". E que preciso fazer meu próprio caminho, sem colocar a estrada dos outros aqui. O que é meu e o que é do outro, ainda que deságuem no mesmo mar, precisam seguir percursos próprios.




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