No sopro do fole

Acabo de assistir à cena da novela Pantanal, em que Juliano Cazarre e Silvero Pereira assumem o AMOR. De um lado um personagem hetero que descobre o amor fraterno, de outro um amor homoafetivo. Ambos, "amores". E de imediato, realizo uma série de intertextos que vinculam significados úteis. Primeiro, a importância que a imagem, seguida das falas, expressões e lágrimas, lançam diante do espectador.

Os atores foram genuinamente donos da cena, que transborda respeito, diálogo, potência e reflexão. Quantos "Alcides" e "Zaqueus" existem e podem realizar em si mesmos evoluções e injeções de autoestima e acolhimento? O mundo está ao contrário e temos vontade mesmo de descer.

Não preciso ser homossexual para entender quem o é - como pessoa, não preciso deixar de ser homem para ser menos machista a cada dia, não preciso deixar minhas características femininas para me reafirmar mulher de fibra, não preciso viver a vida do outro para que eu sinta que o outro deve e pode viver a dele... É um processo, é manter os pés no chão, é se maravilhar com a possibilidade de acordar todos os dias, poder enxergar e sentir: raiva, angústia, sede, fome... e poder ter espaço para preencher cada vazio.

Não há escolha sem perdas, nem movimento sem início; é o contato com a benção e/ou com a lição, que nos impulsiona, engrena, possibilita. Nada pode passar livre do nosso olhar aprendiz!

Em cada tempo vivido, venho entendendo de silêncios intermitentes, de esvaziamento, de tentativas frustradas de perfeição, de desacertos e recomeços, de lágrimas e amanheceres, de amigos e curas - de mim mesma.

Quão importante é me encontrar em todas as minhas facetas - efêmeras e mutáveis com muito orgulho e assistir, refletir e me importar - ainda que tenha limitações humanas. O real é a evolução, porque quero, porque espero e porque aceito. "Vivemos no mundo, mas não somos daqui."

Que encontremos o "maravilhamento" da vida, nas pequenas coisas. Os desamparos existem, mas precisamos de sopros, respiros e AMOR.