O poder dos nossos pés
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 31 de jan. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de fev. de 2021
Os telefones e redes sociais nunca foram tão especiais quanto neste tempo de Pandemia. Uma loucura o que fizemos com as horas todas, com os amigos e com os abraços. Tempestades de mensagens e resistência ao ato mais prazeroso, terno e visceral que já inventaram: o abraço! Para os abracentos de plantão, encontrar por acaso ou por necessidade, sempre valeu a desculpa para abraçar.
Pandêmicos estamos e por assim ser, o dever coletivo do afastamento é a primeira compreensão. Não contagiar, já que o contato pode trazer sérias derrotas. Muitas mil vidas ceifadas porque decidiram negligenciar as orientações dos órgãos de saúde e preferem repetir o que um mentor inescrupuloso diz, faz, proclama e ainda encontra cegos fãs.
Podem me chamar de extremista, mas não desqualifique minha indignação com o cenário absurdo do nosso Brasil.
No entanto, apesar de enxergar claramente um governo atroz, vejo um país paralelo a ele. Há grandes avanços relacionados à ciência, que produz tanto - mesmo sem o devido incentivo, há pessoas capazes de produzir conhecimento nas redes sociais - os quais aproximam mentes que desejam expandir, um alargamento visível de jovens que discutem e realizam um país mais justo. E é por conta destes e de tantos outros detalhes tão preciosos que este lugar ainda é habitável, respeitável e potencialmente forte!
Tempo de recolhimento, mas também de reinvenção. Somos tão movidos ao contato, que percebi certo aprofundamento nas mensagens, certo tempo a mais nas ligações, certos lugares de fala que os marginalizados não tinham, certa visibilidade para as coisas simples e direções para o que nos é mais importante.
Nenhum período passado por nós - deixa de marcar. Um cenário como este deve ser lido de maneira meticulosa, irrestrita de aprendizados. Não sei dimensionar a dor da perda de um querido(a) para o vírus, não imagino o que é não ter o que comer, sofrer maus tratos dentro de sua própria família, mas isso não me concede o direito de não trabalhar em mim o respeito ao outro, ao coletivo e lapidar cada vez mais o entendimento das diferenças!
Tive conversas e silêncios por muitas vezes nesta quarentena, e posso manifestar aqui a minha gratidão e honestidade ao meu lugar de privilégio SIM! E me conjugo como ser evolutivo que sou, como aprendiz! Nada em mim precisa me impor ou desqualificar-me. Cada um com o seu PROCESSO!
O que encontro em mim, posso não encontrar no outro - e a riqueza é especialmente essa! E demoramos tanto pra entender que:
Não precisamos ser negros para ser antirracistas;
Não precisamos ser pobres para defender o direito básico do alimento, da educação, da saúde, do emprego...
Necessitamos estudar e graduar nosso cérebro - e ele entenderá a diferença entre assistencialismo e solidariedade;
Não precisamos ser gays para acreditar que quem o é deve ser respeitado;
(...)
São tantas inquietações que precisam de organização melódica em nós e, um tempo como este foi de especial conexão ou tentativa desta. Espero muito que o desconforto - seja ele qual for, deste período atual - em que nada pareceu comum, possa ter trago a cada um que se dispôs a ler até aqui um espécie de empurrão.
Que a vacina nos encontre em transe, em processo, em experiência com o interior... Infelizmente ainda teremos grandes lutas contra o erro opressor que recebeu poder, mas creio nos seres que crescem também nas dificuldades - quando, independente da falta de luz no horizonte, seguem suas rotas.

"Nem todos vão entender o seu caminho, mas tudo bem; o caminho não é deles, é seu!"




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