Os amigos nos lembram quem somos
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 2 de jul. de 2024
- 2 min de leitura

Quinta-feira de uma semana nada comum, fomos ao cinema. Um filme já esperado por aqui e que veio a calhar - numa das semanas mais ansiosas dos últimos tempos: Divertida Mente 2. A personagem principal em sua nova fase, cheia de tantas emoções, cercada de muitas versões de si mesma.
Consigo me reconhecer em todas elas, principalmente na ansiedade. É bem verdade o tanto que ela é traiçoeira, não para nunca de desorientar todos os outros sentimentos. Em contrapartida, ela também nos faz um tanto mais organizados, preparados de certo modo para os dragões - que muitas vezes, na vida real, não passam de passarinhos.
Dizem que desde as primeiras encenações gregas ao grande público, a humanidade encontra na arte, uma maneira de fazer-nos mais humanos, mais próximos - porque reconhecemo-nos frágeis e igualmente suscetíveis às emoções. É como se o drama, o amor, o ódio... vistos no palco, na tela, nos outros, espelhassem os eus de cada ser espectador.
Há uma pessoa e dentro dela um arcabouço de: raiva, tédio, tristeza, alegria, ansiedade, medo, vergonha, inveja, nostalgia... e uma lindeza de sentimento trazida neste continuar do filme: a consciência de si. Acredito ser o que mais nos equilibra diante de tantas expressões presentes em nós.
Todo o enredo circunda a construção dessa consciência de quem Riley é pra ela e cada vez que compreende o seu valor, percebe-se a graciosa sombra da amizade. Como Ana Suy bem diz no seu livro sobre o amor-amizade, intitulado A gente mira no amor e acerta na solidão:
"Quantas vidas não foram salvas por amigos? (...) Nossos amigos são as pessoas que nos darão notícias de que nem tudo está perdido (manchado), de que há partes nossas que ficam com a gente – e vez ou outra com eles."
A personagem é a maior compreensão de que as coisas nos acontecem e o que vale é o que fazemos depois de cada situação. Os sentimentos são para sentir, mas mais do que isso, são feitos pra ler. Uma leitura sensata, daquelas que precisam ser relidas, daqueles textos que precisam descansar - antes de serem concluídos.
O amor-próprio pode porventura, permanecer infantil, adolescer, amadurecer ou ainda nem ter nascido, no entanto é o que mais precisa ser plantado na geração ansiosa, no coração intempestivo que a atualidade desperta.
É um enredo delicado e simultaneamente provocativo, como a vida. Cabe a nós, encontrar maneiras de dissolver aquilo que sentimos e dar espaço para nos valer do que temos de mais indelével: somos uma obra aberta.
No desfecho não houve a confirmação da entrada de Riley no time dos sonhos, afinal, não era isso que mais importava. A vida é sobre nos sentir pertencentes a nós, na inteireza dos descuidos e dos resgates do caminho.




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