Que não percamos o alento
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 20 de abr. de 2024
- 2 min de leitura

Vó, há menos de dois meses, escrevia sobre vovô, e nem podia imaginar o que estava por vir. Sua fragilidade desabrochou - quando viram suas lágrimas caírem e seu corpo inteiro sofrer pela partida do seu companheiro. Se pra nós foi difícil processar, imagino aqui o que o seu coração sentia.
Relatos do seu estado físico acontecia a todo instante, mas a leitura do coração "ninguém ou quase ninguém" poderia fazê-lo. Até porque foi uma vida inteira para cuidar.
Dona Ana faria 89 anos no fim deste mês e nenhum dos dias passados aqui neste plano, foram de ócio, de inutilidade ou inverdades. A nossa avó era atividade constante, força pra quem precisasse dela, olhar diferenciado para os seus, exemplo de oração, insistência para os desavisados e questões. Ninguém passava por ela sem que respondesse a algumas enquetes (risos). Ela queria saber se estávamos sendo fortes!
Como falava com os filhos, netos e bisnetos, revela uma evolução exemplar. Vovó estava atenta ao tempo e se deixou evoluir. Acredito que este detalhe não pode passar em branco. A sua geração, a quantidade de filhos, o que se esperava das mulheres do seu tempo, e o que ela veio se tornando em cada época - nos apresenta uma garra e uma rara grandeza! Era adaptável a qualquer era, espaço e coração.
Não abandonou as certezas internas do cuidado, do se importar e oferecia sua opinião sobre tudo - ainda que não estivéssemos dispostos ou preparados para a escuta. Ela via, sentia e falava.
Sua personalidade não admitia fragilidade feminina, desserviço ou falta de zelo com o masculino e/ou filhos. Fruto da sua criação! Mas neste ponto, também ensinou! Sempre viu suas filhas avançaram esta barreira, e nunca deixou de olhar suas netas e incentivar mais passos, mais passos, mais passos...
A cobrança era a sua manifestação de afeto e entendimento da vida. E se tem um ser solidário e "servidor" que ficará como exemplo, este ser é Dona Ana. A matriarca, quem bordou os pontos no tecido de cada um de nós.
Nos últimos tempos, o seu corpo cansou, seus olhos não mais enxergaram agulha e linha, suas mãos cansadas não faziam mais a comida boa, sua mente não produzia diálogos completos e nem reconhecia os seus com tanta propriedade... e seria egoísmo nosso, não te deixar ir.
Ana foi muitas! Vovô dizia ser a mais bonita das mulheres, os filhos entendiam ser ela, a reguladora das horas; para os netos - uma vovó atenta aos detalhes e para os bisnetos um afeto invejável.
Não é fácil ver partir, mas ninguém quer assistir sofrimento.
Estás na GLÓRIA! Queremos e precisamos crer. Sem o alento encontrado na fé e entre os que ficaram, não teremos como seguir! E isso "vó" foi a principal lição que o seu semblante de paz nos deixou.
Olhe por nós! Daqui ficamos com a imagem linda da sua chegada aí. Nossa Senhora te recebendo e vovô alegre demais por te ver voltar!!





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