Ser inteiro no espaço dos afetos
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 25 de nov. de 2023
- 3 min de leitura

Como é difícil compreender a proporção que algumas pessoas tomam em nós. Há caminhos que parecem não ser nossos, até que surge uma conversa e o ponto que adormecido estava, volta com força.
O tempo é apenas um detalhe mesmo e, estar atento às minúcias faz toda diferença. Um dia ruim pode ser apenas um dia ruim, ou uma noite sem descanso, um desabafo, um luto mal vivido, um desencontro de almas - ou ser apenas um laço desfeito.
E por que o sofrer traz o crescer? Porque precisamos ser abertos - pelo amor ou pela ferida exposta. E na maioria das vezes, teimosos que somos, as feridas são a exposição daquilo que não queríamos. Mas sigamos: Just move on! Nada tem duração eterna, então se enterrar e regar mágoas, só planta mais dor.
E por que crescer faz sofrer? Porque precisamos ser fechados - pela saudade feliz ou pela parada obrigatória. Os ciclos se fecham e outros precisam abrir espaços. Ninguém tem duração ilimitada, então criar futuros, sem plantar, não traz semeaduras.
Na angústia da separação, um novo formato, nos olhos marejados, possibilidades de reconhecimento. Quem me dera sempre poder ver o que me espera. "Não conhecemos todas as pessoas que ainda vão nos amar" - tão somente por ser quem somos. Assim como, não conhecemos quem vai nos odiar pelo mesmo motivo.
O que fazer desse duo que o viver pressupõe?! Amor e dor, guerra e Paz, sinistra forma de completude que tens a nossa existência. O que não me alcança, não é mesmo meu, não mendigar é o que mais precisamos entender. Os degraus foram feitos para subir, cada um por vez. Quem sobe, diferente disso, destrói algum detalhe do passo, pode cair, desestruturar mais gente e possivelmente, olhará para a direção errada.
Entristece-me sentir as minhas quedas, possíveis de ser evitadas! Mas angustia-me muito mais, lembrar do olhar que tem quem não tenta subir e perde tempo calculando demais o avanço alheio.
Quanto retrocesso presente na inveja, no dedo apontado, no prazer de ver o insucesso! Quantas relações ceifadas pela falta do auto cuidado! Cuidar-se traz benesses e abre portais.
O porto seguro do afeto pode ser visto em um dos mais lindos sinais de Deus na terra: os amigos sinceros. Amizade e sinceridade deveriam ser palavras sinônimas, pois parece redundância dizê-las juntas.
Quem não as possui é, no mínimo, infeliz e/ou descuidado de si mesmo. Quem não olha para o lado, pode até subir as escadas, mas não terá o deleite da mão entrelaçada, o singelo poder da lapidação dos excessos - que atravessa a convivência respeitosa.
E muitos subirão, isso é legítimo! Com velocidades diversas e pouca ou muita sustentação de afetos. Eu, continuo preferindo a segunda possibilidade e, dar o meu passo, sentir o meu sapato, olhar quem realmente importa e deixar ir o que ainda me pesa.
Nada meu pode ser o outro a carregar, posto que cada ser tem a missão de se entender. E a passagem por aqui é detalhe que não se mede com cobranças descabidas. E se tudo virar crônica, posso ser eu a usar as palavras, mas não dominarei nunca o seu alcance.
Por isso é tão significante a solidão das horas mesclada ao encontro de almas. E mais uma vez celebro as amizades de uma vida, os degraus já entendidos, as mãos que nunca me esqueço, os olhares sinceros e alguns contos sobre as amigas que (re)conheço na maturidade.
Maturar as relações é compreender que o tempo é um espaço de experiências! Nenhuma disputa, vivências! Nenhuma justificativa, análise! Nenhuma obrigação, responsabilidades! Nenhum degrau sem o colo dos anjos terrestres - no espaço/tempo que nos for confortáveis!




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