
Sou aprendiz da palavra que sai de mim
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 14 de ago. de 2022
- 2 min de leitura

Mil voltas e o meu olhar não se cansou. A foto captou um instante, um retorno: a mim, ao espaço que esse mar ocupa e à impetuosidade de suas ondas somado à distância que percorremos, medida em tempo/espaço e planos para voltar ali.
A memória precisa saborear e o registro dos segundos, flexibiliza e ecoa por muitos anos, o que consegui deixar mais leve, menos ou mais movimentado, salgado ou insosso, disponível ou irregular.
Muitas coisas na vida são como este "mar", que planta inconstância e poesia, num mesmo instante que planta afetos. Descobri como equilibrar o barquinho pescador, observar a lua, reconhecer-me frágil, pé na areia, realidade na retina, sal nos olhos e a espera pelo sol perfeito... Das metáforas que a vida planta, o "mar" até aqui, ganha de lavada.
Reporto a sua imensidão e gratuidade com qualquer um que se aproxime dele, com qualquer energia ou falta dela, molhando os pés ou disposto à contemplação - ninguém sai o mesmo quando se propõe a navegar.
Nos últimos tempos, os diálogos externos têm acontecido com frequência e ondas gigantes vêm invadindo espaços que pareciam maresia. E do alto dos meus anos, sinto a potência lunar de novo. É tão inconstante viver, pois tentamos jogar a âncora e sentir segurança e nada disso vale por muito tempo. Logo o tempo vira, não há cais seguro e a viagem segue outro rumo. E nossa expectativa é apenas um grão de areia que precisa deixar voar ou precisa engarrafar para rememorar que a vida não parou. Cada um com sua estratégia.
O espaço das águas toma proporções inimagináveis e, é tão bom mergulhar em si e entender que as ondas cessam seu caminho e dão passagem à próxima, com humor e amor diferenciados.
Conhecer pessoas é enfrentar o mar. Contemplar antes de mergulhar é um trabalho de pescador experiente, que pode jogar a rede algumas vezes - sem sucesso, mas nunca desiste do seu ofício. E como todo trabalho, há dias sem peixe, barco sem vela, tempestades em alto mar, ondas inesperadas e todo o resto, todo o processo, toda a centelha de uma vida com prazer.
Os últimos tempos foi tsunami para muitos, até o que era igual, virou mar. Cabe a nós continuar poluindo ou abrir a possibilidade de guardar afetos. Prefiro ainda caminhar nas minhas areias, salgar a alma e velejar entre os que amam o mar.
Sou aprendiz da palavra que sai de mim e vai ao encontro da cena marítima, conhece outros litorais e retorna como uma onda (im) perfeita à minha retina. Preferindo captar o detalhe que me eleva, SEMPRE!




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