Um tempero invisível
- Daliane Azevedo P. Guimarães

- 10 de dez. de 2020
- 2 min de leitura
"Tenha filhos", "Se não os temos, como sabê-los?" - repetem e repetem os poetas e pais! Tão intensa a experiência de deixar a herança, possivelmente o "melhor" de nós, inevitavelmente, os nossos "nós"... São tantos os temas que me ofereceram há um tempo, como pedido para as próximas escritas, e "perpetuar o lado empático" - talvez tenha sido o interno de cada sugestão.
Criar filhos, por vezes, foi automático, reprodução de um ciclo patriarcal, reconhecimento e reafirmação do papel maternal e hoje, felizmente, um tempero se dissolve e realiza sabor naquilo que parecia se tornar insosso.
Enxergo com uma grande esperança, um mundo cão e egoísta, sendo imerso por filhos livres, com asas e lugar de fala. Não é impossível já imaginar uma geração forte em muitos sentidos.
E aqui, não tão diferente de outros lares, tenho alguém de cinco anos - que me faz mil perguntas sobre "tudo" e sou grata a mim mesma por não ter todas as respostas e cultivar uma liberdade de dizê-la que não as tenho. E fico tão engasgada ao olhar o mundo em volta que teme em calar os curiosos por ciência, por estudo, por organização de uma vida justa.
E em época de Pandemia, a reflexão nos impõe rever conceitos e direitos. Espaços e conexões com o outro - que acredito não ter tido em um outro instante histórico.
A máscara tão exigida é o mínimo que se pode fazer para a proteção dos valores altruístas que não podem morrer, ou pelo menos, deixar de ser cultivado. E se me canso de preparar o broto (filho), desprotejo o mundo e visualizo outras tantas pandemias.
Tanta gente recai no desuso da máscara e refaz, regressa, mata, dissemina o que os pequenos não precisavam mais ver neste mundão. O inferno somos nós que transferimos "nós" tão atados de "egos"... O céu somos nós que mascarados, reclusos e sensíveis, transferimos um tempero amoroso e possivelmente criamos novas mentes, capazes de lutar - ainda que chova, de seguir - ainda que a estrada esteja difícil, de pensar no outro - ainda que se realize um processo gradativo de aceitação do diferente.
No invólucro do ato de ter filho está implícito uma missão compreensivelmente ardente. A vontade interna é que o mundo fosse mais humano e menos máquina! A realidade é prepará-los para fazer do caos um cuidado com o outro e não o contrário.
Ainda "crente" nas mentes que pensam, recriam e são empáticas - apesar de tudo!





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