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Água nos olhos

  • Foto do escritor: Daliane Azevedo P. Guimarães
    Daliane Azevedo P. Guimarães
  • 7 de fev. de 2021
  • 3 min de leitura



Habitamos um mundo que se diz tão prático, acessível, socialmente diverso e uma série de adjetivos compostos de perfeição. Será? Até que ponto nos automatizamos, pesamos a nossa bagagem para transpor ou transparecer SUCESSO?


Chuva lá fora e o pensamento queima por aqui... Como é difícil acolher o choro, acolher a raiva, acolher o tom da voz do outro, dissolver as inquietudes – primeiro assumindo a incompletude do eu!

Há tanta razão no mundo que pensamos viver. Um jeito absurdo de sufocar a lágrima, paralisar a tristeza, o desconforto, a irritação... Como se nada disso fosse natural. Ser mulher então, é extremamente um provar todo dia que podemos. Triste fim teremos se não aceitarmos toda nossa bipolaridade, tudo que nos combina com a lua: fases, formatos, emblemas, segredos, lágrimas e personas! Cobra-se tanto equilíbrio que nos esquecemos do puramente humano.


Durante muito tempo, aceitar o choro - seja ele o deságue de qualquer sentimento, foi vergonhoso, necessitado de reclusa, discrição e símbolo de fraqueza. O que fazer com as lágrimas se o posto feminino era o serviço? Desleal todo papel de perfeição, do silêncio, da organização de tudo e todos.

Tenho medo quando repetem um papel de restauradora, construtora, um ideal de mulher. Casadas, separadas, namoradas, profissionais, sem qualificação, insensatas, "surtadas", "loucas", "tagarelas"... Sempre tem um nome, um posto, uma caracterização para justificar o que não era “lugar de mulher”!


A falta do chorar no tom masculino de ser, começa também a assustar. Há um tempo, o contrário era o símbolo da força. Que incrédulos seres, ora empurrados para o mundo, ora poupados do que é doméstico, estreito, “fraco”! Estagnados na racionalidade de que o mundo foi feito por homens não emotivos, não participantes, possivelmente melhores que qualquer instabilidade feminina.


Li essa semana algo que remexeu minha mala de preconceitos. Uma mãe dizia a filha: “- Querida, quando você crescer, quero que seja assertiva, independente e determinada. Mas enquanto você é criança, quero que seja passiva, adaptável e obediente!”


Quanta ingenuidade acreditar que a vivência da infância se desconecta do ser adulto que nos tornamos. Os seres são únicos e diversos e, quando não se leva em conta, tende-se a acreditar num controle. Encaixar, moldar, comparar, educar sem respeito aos sentimentos só distancia uma sociedade melhor de nossas mãos. Estes caminhos precisam se tornar obsoletos, pois é preciso atravessar o rio!


Entendo boa parte de nós já atravessando! E como é desafiante este entremeio, um caldeirão que remexe os valores congelados de composição: comportamental, familiar, sexual, feminino, lunar, diferente, carregado de bagagem de luz.


Uma voz de futuro toca o sono da humanidade e ecoa: Não é feio chorar! Não é fraqueza acolher o choro do seu filho e o choro dos seus olhos. Que as lágrimas sejam a tessitura mais bonita da sua vida.


Deixar a criança ser ela com os cliques de personalidade natos, deixar o jovem ser indeciso, experimentar, ter pés no chão e cabeça na lua, olhar o outro como outro, o erro como degrau, aliviar o acúmulo interno, reconhecer a inconstância como parte da construção de mundo, do existir aqui, pode facilitar a compreensão de que os excessos também podem ser cuidados.


Preciso aceitar as minhas vulnerabilidades, fabricar vazios, praticar silêncios e conviver com o movimento constante que nos impõe a sociedade que temos.


Meus desejos imediatos: vacina, abraços e praia! Meu desejo para o meu SEMPRE: viver a potência da mudança, CADA VEZ MAIS LIVRE do juízo de valor!


 
 
 

2 comentários


Daliane Azevedo P. Guimarães
Daliane Azevedo P. Guimarães
12 de fev. de 2021

Eh minha amiga, que bom contar contigo, na leitura, na identificação, na estrada da maternidade e do feminino que a vida nos proporciona. Gratidão!!!

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laismbrito9
12 de fev. de 2021

Ah Dona Daliane, essa crônica me trouxe água nos olhos pela realidade(nua e crua) da maternidade e tudo que a cerca! Obrigada pela franqueza em compartilhar os anseios e cobranças que enfrentamos diariamente para sermos cada vez melhores para nós mesmas e nossos pequenos, respeitando os processos e falhas 💛

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